Globalização humanitária
Do alto dos seus 90 anos, o filósofo e sociólogo europeu Zigmunt Bauman, --- autor da consagrada obra intitulada “Vida Líquida” e da afirmação de “a incerteza atormentadora da sociedade moderna derivar da transformação dos seus protagonistas de produtores em consumidores”---, entendeu em levantar a voz para anunciar a chegada da hora da “globalização humanitária”, depois da passagem pela “globalização do capital, bens e imagens”. Pelos seus cálculos, nos próximos 40 anos teremos 1,0 bilhão entre refugiados e imigrantes, algo a relembrar o relato sobre o êxodo bíblico.
O crescimento do fluxo migratório via Mediterrâneo é inconteste. Segundo a ONU, 60 mil refugiados atravessaram o Mediterrâneo em 2013. Já no ano seguinte, as travessias atingiram a 219 mil e foram contados 3.500 corpos afogados.
Depois de correr o mundo a imagem do martírio em praia turca do pequeno sírio Aylan, de três anos, alguns xenófobos de plantão, sem se envergonhar, recolheram-se temporariamente, casos da francesa Marine Le Pen e do italiano Matteo Salvini. Apesar dos esforços do luxemburguês Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Européia, existe resistência em aceitar às cotas migratórias estabelecidas por Bruxelas (UE) por conta dos governos da Hungria, Polônia, Eslováquia e República Checa. Tais governos não querem refugiados e nem imigrante e, solenemente, ignoram os sacrifícios suportados até agora pela Itália, Grécia e Malta. Não fossem esses países, como frisou o papa Francisco, o Mediterrâneo seria um cemitério ainda maior.
Por ironia, na terra da “liberdade, igualdade e fraternidade”, o socialista presidente François Hollande, a fazer malabares para disfarçar a hipocrisia e mostrar aos franceses não ter tido outra saída senão a aceitar 24 mil refugiados, ou seja, um quase nada: até Obama promete receber sírios. Os políticos alinhados com o ex-presidente Sarkozy criticam a abertura aos refugiados e muitos prefeitos de cidades protestam contra a iminente chegada da primeira leva de 200 refugiados: serão distribuídos por 40 cidades francesas, ou seja, cinco estrangeiros para cada cidade.
A propósito, Hollande, ao derrubar o ditador Gaddaf depois de bombardear a Líbia pela influência da cabeça delirante do filósofo Bernard-Henri Lévy, é um dos grandes responsáveis pelo atual estado de caos humanitário. Como se sabe, a pluridividida Líbia restou transformada em capital mundial do tráfico mafioso de seres humanos e dos seus portos embarcam desesperados africanos e asiáticos para arriscadas travessias pelo canal da Sicília.
A propósito, Hollande, ao derrubar o ditador Gaddaf depois de bombardear a Líbia pela influência da cabeça delirante do filósofo Bernard-Henri Lévy, é um dos grandes responsáveis pelo atual estado de caos humanitário. Como se sabe, a pluridividida Líbia restou transformada em capital mundial do tráfico mafioso de seres humanos e dos seus portos embarcam desesperados africanos e asiáticos para arriscadas travessias pelo canal da Sicília.
No momento, pela cabeça de Hollande passa bombardear e derrubar o ditador sírio Bashar al-Assad, sustentado no poder por minoria alawita e sob fogo de tribos inimigas e do Estado Islâmico (Isis), em busca da fixação territorial de um califado da Síria ao Iraque.
Por outro lado, situação particular vive o conservador governo britânico com o premier Cameron a tentar tirar do foco internacional a ministra xenófoba Theresa May, da pasta do Interior (segurança pública interna). Essa ministra deseja expulsar, segundo artigo por ela escrito no Sunday Times, todos os estrangeiros sem trabalho da Grã Bretanha. Não bastasse, incomoda-se com os muitos estudantes bolsistas estrangeiros a perambular por Londres.
Numa clara postura neorracismo, o premier britânico apenas aceita receber, da cota estabelecida por Bruxelas, refugiados sírios, pois são escolarizados e, lógico, aceitariam baixos salários.
O ingresso da Grã-Bretanha na comunidade européia foi vetado em 1963 e 1967 por De Gaule e ficou célebre a sua observação de se tratar de “uma Ilha insignificante perdida no meio do Mar e a se interessar mais pelos EUA do que pela Europa”. O ingresso na União Européia, mantida a própria moeda, deu-se em 1973. Os britânicos não aderiram aos acordos de Schengen voltados à abolição de fronteiras e de livre circulação para os membros comunitários: de Schengen participam 22 estados-membros e quatro associados: Suíça, Noruega, Islândia e o Principato de Liechtenstein.
Como o clima de comoção internacional é pesado, Cameron também não teve como resistir em receber refugiados. Não será necessário esfera de cristal para se descobrir o resultado da consulta popular marcada para 2017 e sobre a Grã Bretanha prosseguir ou sair da União Européia.
Esse cenário de tragédias e insensibilidades, é contratado pelas lideranças exercitada pelo papa Francisco e, mais recentemente, pela chanceler alemã Angela Merkel. Merkel conseguiu tirar proveito da situação ao comprometer-se neste ano de 2015 em receber 500 mil pedidos de asilo (quando ocorre fuga de nacionais de território em conflito bélico). Com isso, aumentará a força de trabalho e reduzirá a crise de natalidade tedesca. Francisco colocou o seu pontificado ao lado e em defesa dos carentes e excluídos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário